segunda-feira, 15 de julho de 2013

Louça de Caldas da Rainha, século XIX

Garrafa, peça moldada e modelada em barro vermelho, 1820-1853. Ceramista Maria dos Cacos. Atr. Oficina Maria dos Cacos - Museu da Cerâmica
Caldas da Rainha, centro cerâmico nos últimos 150 anos, tem tradição de actividade barrista, com possível origem na Idade Média. 
A vila originariamente chamada de Caldas de Óbidos, desenvolveu-se em torno do hospital termal - mandado construir por D. Leonor, esposa do rei D. João II (1481-1495).
Os mestres e fabricantes das Caldas da Rainha, do século XIX, alguns deles representados actualmente em museus, dirigiam pequenas indústrias de produção cerâmica, dispondo em feiras e mercados de todo o país, as suas peças de barro. 
A louça das Caldas, um género de faiança essencialmente decorativa, evoluiu ao longo dos tempos, caracterizando-se sobretudo pelos motivos naturalistas.

Travessa, peça  moldada e modelada em barro branco, 1860. Ceramista Manuel Cipriano Gomes Mafra. Fábrica Manuel Cipriano Gomes "Mafra" - Museu da Cerâmica
Marca gravada na pasta na base da peça, M. MAFRA/CALDAS/PORTUGAL (âncora)
   
Maria dos Cacos, barrista e feirante caldense, abriu uma oficina que laborou por cerca de 30 anos (1820-1853). As louças e peças decorativas que produzia, gozavam de grande popularidade nas feiras de todo país. A oficina dos Cacos seria a "impulsionadora" do centro de cerâmica das Caldas. Em 1950, Manuel Cipriano Gomes (1829-1905), natural de Mafra, inicia o ofício de ceramista na oficina de Maria dos Cacos. Ainda na fábrica da oleira, em 1852, contacta com D. Fernando II, quando este visita as olarias das Caldas da Rainha. Assume a fábrica de Maria dos Cacos, em 1853, adopta o sobrenome "Mafra", e enceta o seu percurso como ceramista, com o apoio da sua família. 
No ano de 1860, Manuel Mafra fundou uma fábrica com o seu nome, assinando as peças com as iniciais MCM. Posteriormente, viria a utilizar as marcas M.C.G., MCGM e M. MAFRA/CALDAS/PORTUGAL (âncora). Estavam lançadas as bases para a indústria cerâmica local. 
Ao longo de toda a sua carreira, Manuel Mafra adoptou o estilo do ceramista francês da Renascença, Bernardo Palissy (1510-1589). O sucesso foi grande, o estilo popularizou-se e foi copiado por muitos dos ceramistas caldenses do século XIX. Além dos elementos característicos deste estilo, cobras e lagartos, Manuel Mafra adicionou outros elementos tradicionais de Palissy, como conchas, peixes, lagostas, sapos, fauna e flora locais. Incorporou um novo elemento ao design tradicional, o musgo ou musgado, recorrendo a uma tecnica egípcia com mais de 2000 mil anos. Os seus esmaltes foram também muito apreciados pela qualidade técnica, comparada aos melhores artesãos de todo o mundo.
Depois de 1870, D. Fernando II dá à fábrica o titulo de Real Fornecedor do Rei, e concede autorização para o uso da coroa real na marca, dando origem a M. MAFRA/CALDAS/PORTUGAL (coroa). Manuel Mafra participou em diversas exposições e foi premiado em 1878, 1873 e 1879. Em 1881, foi considerado o “Palissy das Caldas”, pelo Inquérito Industrial. Em 1890 o recheio da fábrica foi leiloado e adquirido por Herculano Elias.
 
Bilha de Segredo, peça rodada e moldada em barro branco, 1870-1887. Ceramista Manuel Cipriano Gomes Mafra. Fábrica Manuel Cipriano Gomes Mafra - Museu da Cerâmica
Marca gravada na pasta, M.MAFRA/CALDAS/PORTUGAL (coroa), no reverso da base

Canjirão, faiança vidrada, 1870-1887. Ceramista Manuel Cipriano Gomes Mafra. Toda a superfície da peça é decorada com musgados  - Museu da Cerâmica
Marca gravada na pasta, M.MAFRA/CALDAS/PORTUGAL (coroa)
Jarrão, peça moldada e modelada em barro branco, 1870-1887. Ceramista Manuel Cipriano Gomes Mafra. Fábrica Manuel Cipriano Gomes Mafra. Esta peça executada por Manuel Cipriano Gomes Mafra, traduz o estilo de Bernard Palissy, ceramista francês da Renascença - Museu da Cerâmica
Prato, peça rodada e moldada em barro vermelho, 1888. Ceramista Manuel Cipriano Gomes Mafra, Caldas da Rainha. Esta peça executada por Manuel Cipriano Gomes Mafra, denota a influência de Bernard Palissy, ceramista francês da Renascença - Museu da Cerâmica
Marca gravada na pasta, M.MAFRA/CALDAS/PORTUGAL (coroa), no reverso da base
Assinatura, peças de Manuel Cipriano Gomes Mafra (fase inicial de fabrico)
 



Marca, MCGM (âncora), peças de Manuel Cipriano Gomes Mafra


Marca, M. MAFRA/CALDAS/PORTUGAL (âncora), peças de Manuel Cipriano Gomes Mafra 
Marca, M.MAFRA/CALDAS/PORTUGAL (coroa), peças posteriores a 1870, de Manuel Cipriano Gomes Mafra

José Francisco de Sousa (1835-1907), outro ceramista ilustre, foi mais um seguidor da tradição de Palissy. Iniciou a sua actividade em 1860, numa oficina adquirida ao ceramista António de Sousa Liso. A notável produção de faiança artística da oficina de José Sousa, é reconhecida pela paleta de cores diversificada e qualidade artística, colocando-o entre os melhores ceramistas das Caldas. 
O ceramista Francisco Gomes de Avelar (1850-1918), conceituado artífice, fundou a sua fábrica em 1875, rodeando-se dos melhores operários da época. Destacou-se de entre os seus pares, recriando o famoso azul de Sévres através do uso de óxido de cobalto. A sua fábrica que laborou durante 22 anos, foi premiada em diversas exposições. Uma das personalidades mais marcantes desta época, o ceramista Rafael Bordalo Pinheiro, principia experiências com argilas e esmaltes, na fábrica de Francisco Gomes Avelar. 

Jarra, peça moldada e modelada em barro branco, 1863-1890. Ceramista José Francisco de Sousa. Fábrica de José Francisco de Sousa - Museu da Cerâmica

Canjirão, peça moldada e modelada em barro vidrado, 1860-1907. Ceramista José Francisco de Sousa. Fábrica de José Francisco de Sousa - Museu da Cerâmica

Marca gravada na pasta, JFS, José Francisco de Sousa
Serviço de chá, peças moldadas em barro vidrado, 1875-1897. Ceramista Francisco Gomes Avelar. Fábrica de Francisco Gomes Avelar - Museu da Cerâmica
Prato D. Maria Pia, faiança moldada, séc. XIX. Ceramista Francisco Gomes Avelar. Fábrica de Francisco Gomes Avelar - Museu da Cerâmica
Marca inserida numa elipse, F. Gomes Avelar/Caldas da Rainha, gravada na pasta no reverso da peça
Como seguidores do ceramista Manuel Mafra, destacam-se António Alves da Cunha (1856-1941) e José Alves da Cunha (1849-1901). O primeiro, com elevada qualidade de produção. Era especialista na execução de flores realizadas manualmente em barro. O segundo, representado em diversas exposições internacionais, viu o seu trabalho distinguido com diversas medalhas e menções honrosas. Foi também um notável seguidor de Bernardo Palissy.


Jarro, peça moldada e modelada em barro branco, 1902-1925. Ceramista António Alves da Cunha. Fábrica de António Alves da Cunha - Museu da Cerâmica
Galo, floreira, peça moldada e modelada em barro branco, 1902-1925. Ceramista António Alves da Cunha. Fábrica de António Alves da Cunha - Museu da Cerâmica
Jarro, peça moldada e modelada em barro vermelho,  1902-1925. Ceramista António Alves da Cunha. Fábrica de António Alves da Cunha - Museu da Cerâmica

 
Jarrão, peça moldada e modelada em barro vidrado, 1862-1901(influência de Manuel Mafra e Bernardo Palissy). Ceramista José Alves Cunha. Fábrica de José Alves da Cunha - Museu da Cerâmica

Prato, peça moldada e modelada em barro branco, 1913. Ceramista José Alves Cunha. Fábrica de José Alves da Cunha - Museu da Cerâmica
Marca inserida numa elipse, José A. Cunha/Caldas da Rainha/ Portugal, gravada na pasta no reverso da base
O Vira, peça moldada e modelada em barro vermelho, 1913. Ceramista José Alves Cunha. Fábrica de José Alves da Cunha - Museu da Cerâmica
Inscrição em relevo na base da peça

Prato, peça rodada e moldada em barro vermelho, 1884-1939. Ceramista Herculano Elias. Oficina de Herculano Elias - Museu da Cerâmica
Marca, H. Elias/Caldas da Rainha, carimbada na pasta no reverso da peça



Fontes:
http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Apresentacao.aspx
http://www.cm-caldas-rainha.pt/portal/page/portal/PORTAL_MCR/VISITANTE/TRADICAO/LOUCA_CALDAS
http://lazer.publico.pt/passeiosepercursos/76199_caldas-da-rainha-a-cidade-da-louca
http://www.palissy.com

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